6.4.05



Queria riscar todas as fronteiras dos mapas até abrir um rio. Banhar de verde as civilizações de luz apagada. Corre dentro de mim esse líquido, deitado nas margens chamo-lhe profundo desejo.
Queria amarrotar o mapa, fazer tranças gaulesas nos países pintados a vermelho. Baptizar de sol nascente os magros-de-fome que morrem sem nome. Queria sal nos rios, plantar flores e árvores nos filhos do Oceano Índico. São irmãos-de-mar os inimigos de guerra.
Dobrar os mapas em papagaios de papel, arrastá-los para o alto voo, leccionar rodopios com um empurrão.
Há, nos mapas, países que crescem tanto que são obrigados a comer os seus próprios deuses e, pior!, os seus próprios filhos.
Queria riscar todas as fronteiras do globo com a palavras paz até rasgarem: brotarem lagoas com voos rentes de andorinha.
Nas margens, seduzidos pelo imoral odor da água, é mais fácil amar.
Há, nos mapas, países que mingam tanto que se reduzem a uma fome de fuga.
Não seriam os chamados Países em Dias de Vingança se no lugar de arames farpados crescessem mãos dadas de rios, se fôssemos tatuagens de pássaro em alto mar.

Está no papel (e nas assassinas lanças) o que as correntes nunca deviam ter vomitado do mar.

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