23.11.11

Parabéns pai

Meu pai faz hoje 62 anos. Começou a escrever as suas memórias, o seu grande romance de uma vida de intensa coragem, aos 61. O resultado, ainda provisório, é a coisa mais enternecedora que alguma vez li. Não resisti. E partilhei. Sou um filho babado sem saber como dizer "parabéns pai".


«Lembro-me que a partir dos meus três anos já começava a perceber o que tinha a fazer para  sobreviver.
E aos quatro já fazia recados por uma côdea.
E aos cinco anos já ia para o campo, para frente de quatro cornos e oito pernas para sobreviver.
E aos seis ia cortar erva para dar de comer a esses quatro ou mais cornos.
E aos sete ia cortar mato para a corte e era preciso fazer na terra.
Até que chegou o dia de ir a escola já com os meus nove anos e no primeiro dia fiquei muito admirado. Quando tocou a sineta para ir lanchar fiquei muito admirado por ver eles ir brincar. Era coisa que eu não sabia, pensava que isso não existia, mas aos poucos fui-me habitando. Entretanto chega a primavera lá vai o Fernando deixar as aulas para ir para a frente dos tais quatro cornos e oito pernas. Maldito tempo e maldita situação. Lá passou o tempo do dos meus dez anos sem ler e escrever. Maldito Salazar!»

Fernando Mendes, meu pai.

20.11.11

Sentença

Cada dia de trovoada
é uma nova paixão de Séneca.

Eu sei: a moral dos peixes

os erros da luz
e a dor dos homens.

Eu sei que o teatro está
irremediavelmente condenado
à sombra do espectáculo.


Eu sei que as consciências
não entram em erupção
mesmo que lhes seja pedido.

16.11.11

Ideias para injectar poemas nos romances (1)

Não somos totalmente humanos,
somos Simbiontes,
somos o humano com bactérias
ou as bactérias do humano?

A solidão não existe.