28.5.06

Lama.






















Tinta para um lado, tela para o outro, não a borro mais a teus olhos.
É a lágrima finita,
é o passado que nos traiu e futuro que escolhemos,
é o último lugar a dois.

* Karel Appel, The Discovery

16.5.06

am Opernring




















autorizar a madeira a arder até ao caruncho, fortalecer o passeio que rebente o engarrafamento das vidas, fulminante ceifada que lhes carbonize a fome. desbloquear as deixas do sonho, afogar os copos em silêncio. abraça-te em mim até as pontes falarem, tatuarem uma árvore na rosa-dos-ventos. encimentar a chama dos rios.

* Det syke barn, Edvard Munch

10.5.06

Áustria




















O Zé é daquelas pessoas fáceis de admirar. Uma janela de honestidade. Zé, ou então José Bento Amaro, irreverente jornalista, insubstituível camarada de redacção.
Não me deixou sair sem enrolar o braço amigo de quem sabe por cima do meu ombro. Sem sussurrar o segredo mais Público de um grande profissional:

Mantém-te fiel aos teus princípios
e àquilo que achas correcto.

Depois foi-se, enigmático, com o cigarro por acender na boca.
E amanhã voo, com o instante a entoar sentido na minha cabeça.

Sim.


* Gartenweg,
Gustav Klimt

6.5.06














sete rios de cegonha em cada olho
seios olhos de lobo em cada mão
cinco cascas de mão em cada ramo
quatro troncos de toca em cada nuvem
três buracos de chuva em cada pau
duas pauladas bem dadas
um morto.


* ilustração: El cielo azul de un luz quieta, Pablo Aizoiala.