29.9.09

Poema erjnfjdnfjdfndjfdjfdf.

São muitos os bancos vazios.
Eu não quero adormecer em cima daquele banco,
Cada seta atravessada na passividade do homem,
Cada decisão errada, essa procura da casa através de um poço,
Uma lupa para ampliar o sono.

Frustrações ao alto,
Coração nos pés,
Fé nos meus.

Se somos um labirinto, haveremos de ter saída.
Um flamingo a frio, se necessário,
É a primeira vida que me aquece.
Toda a impunidade do mundo caia sobre erjnfjdnfjdfndjfdjfdf.

15.9.09

Metro-a-Metro

Abro uma página à sorte para escrever o teu nome.
Mas um movimento de braços, bancos vazios, publicidade pendurada no tecto
- circula muito ar aqui.
Está frio e está calor,
adoece-se bem aqui.

Quando o nome que escrevi te chegou por carta,
não o abriste. Alguém diz:
palavras que anulam a vida num envelope fechado.
São nomes fechados, mesmo os mais belos, que se extinguem
por ignorância do mundo.

No último reduto do mundo, sonha um homem,
anestesiado e sedento de imaginação.
Amaldiçoado pelo gelo, em chamas no interior das raízes,
é uma flor.

São mais as gravatas que os homens no tornado da Avenida Nova.
E por maior que seja o santo, há sempre uma árvore intacta.

3.9.09

Bicho, sonho, fúria

Uma cabeça de nuvem, cimento, a árvore que aponta ambição para o céu, constante aproximação, assim é tão fácil sonhar, assim um homem não tropeça nos seus monstros de estimação, certo dia contaram-me uma estória assim.

Ouve, há pessoas más e pessoas boas, pessoas grandes e pessoas pequenas, pessoas que ganham a vida de madrugada e que são roubadas durante o dia, há muita gente na fila que não sabe se isto tem fim ou para que serve, vê, aqui está um monte de papel usado, cada um deles eterniza informações de tremenda importância, até que os engulam as baratas. Os três filhos de Marília, idade, profissão, nome completo, é um exemplo, estão todos cá.

É o conhecimento, meu caro, se o queimam ele volta a atacar sob a forma de cheiro a bicho pestilento. Se o ameaçam com a ignorância, o bicho primeiro mata e o bicho, depois, morre.

Diz, um filho por cada raíz, se te roubam a verdade e a atiram para longe, não te rales, o mar, que tudo engole e tudo devolve, trá-la de volta. No final de cada página há sempre uma surpresa, um país a renascer numa janela de comboio. É a nação ou a carruagem que avança furiosa? O sonho que tropeça ou o homem, trapalhão, morto pelo bicho da página?


Pintura: Anthony Green

13.

«Tenho doenças no corpo de fora e no corpo de dentro.
Quando cuspo para o chão passo as doenças de dentro para fora.
Quando for muito velho o meu corpo e o exterior vão ser quase a mesma coisa.
Quando morrer, eu e o corpo de fora vamos ter a mesma doença.
Isto pelo menos é que eu penso enquanto estou deste lado.
Morrer é ter a mesma doença que o planeta inteiro.»

Gonçalo M. Tavares, O homem ou é tonto ou é mulher