9.10.07

As Coimbras

Um:
O homem da guitarra tem medo de uma corda.
Evita-a com insistência, faz contas
de cabeça - dórrémíssol - fala sozinho.

A guitarra do homem tem uma corda a menos.
Afilge-se sem desistência, é fá de si mesma,
toca baixinho.

O medo é a corda que nunca esteve,
a música que a corda dá.


Dois:
Todos os dias são terça-feira à noite,
em letígio com o sol,
no diligência.
Coimbra é um pedaço de luz no canto da mesa
e a mulher sentada que aguarda o fado.

É a conta certa de todos os dias,
matemática da noite de terça.
É hoje: Coimbra.
Cidade à noite, entre ruas apertadas na canção
e o recibo amarelo dos que pagam a manhã
com a música que lhes falta.

É a guitarra pousada sobre a mesa.
E a frase falsa,
poço de adjectivos que a prende aqui.