27.2.10

A zaragata dos Livros ou O uivo de uma biblioteca em construção

















Gil Vicente namora com Jorge Amado,
eles agora até já se casam!,
A Paixão de Almeida Faria é uma anedota para Agostinho da Silva,
Mia Couto ensanduichado por uma Gramática de Português para estrangeiros,
a língua portuguesa é muito traiçoeira,
que o diga Enrique Vila-Matas, mesmo Longe de Veracruz,
que tudo vê amarelo, onde tudo é Aparição,
mesmo que Vergílio Ferreira se distraia com anões.
Harold Pinter, alguma madeira e uma Polaroid para Saramago.

Cecília Meireles muito acima de Sarah Kane,
eles agora até se amam!,
vão à pesca com Raul Brandão e morrem em palco,
deseja o leitor - Bernardo Santareno e Anunciação.

E os Antónios, Franco Alexandre?
E os Antónios, Ramos Rosa?
E os Antónios, Ferlinghetti?
Que os Antónios - meu Lobo Antunes - sejam todos Herbertos,
absolutos, laranjas, peixes, amador e coisa amada,
martelem, martelem, martelem!,
eles agora até se martelam!,
num século ou num segundo
desde que em Ofíicio Cantante.

22.2.10

O nosso primeiro Rilke


(...)
«É certo ser estranho não mais habitar a terra,
não mais agir conforme o que mal acabáramos de aprender,
não mais dar às rosas, e a todas as outras coisas identicamente promissoras
o significado do humano futuro;
não mais ser o que se tinha sido
em infinitamente angustiadas mãos, e abandonar até
o próprio nome, como se fosse um brinquedo quebrado.
É estranho não mais desejos desejar. Estranho,
passar a ver sem conexão, disperso pelo espaço,
tudo o que antes tinha unidade. Estar morto
é laborioso e cheio de recomeços, até que aos poucos
nos apercebamos da eternidade.»
(...)

Rainer Maria Rilke, Primeira Elegia de Duíno

19.2.10

Quarto Crescente



Tantos cavalos, tantos Camões, não é?
um homem é um poema que passa a correr
mas há-de voltar, não é?
a memória curta de um gladiador, dizes tu.
quatro pernas robustas: o poema.
o cavalo que corre na passada
e o homem que não o alcança.
o poema: dança.

Metamorfose ambulante

Novo hino dos meus dias.

«Prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

Eu quero dizer
Agora, o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou

Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor

Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator

É chato chegar
A um objetivo num instante
Eu quero viver
Nessa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou

Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor

Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator

Eu vou lhe dizer
Aquilo tudo que eu lhe disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo»

Raul Seixas | Raul Seixas (música mais limpinha)

7.2.10

Diário?

Isto é o passado.
A culpa de um homem, em caso de dúvida, começa aqui.
Quando se sente só, se acha perdido, é no passado que se deita,
aqui, onde a mãe o viu crescer com o nó de mãe no peito,
onde disse o primeiro palavrão com o pânico da desordem,
onde se engasgou para sempre cravando a estaca do seu esconderijo definitivo.