25.6.07

Linha azul, transbordo, linha amarela.

um

muita gente sentada, muita gente
junta muita gente de pé

a próxima estação é dos lúcidos,
dos que temem
teus olhos e pele negra
da muita gente que levas
sentada na tua cabeça, junta
a próxima
a próxima paragem sou eu a sorrir-te
sou eu
a parar contigo.


dois

muito céu
as palavras aqui são outras palavras
dizem outra coisa
nas praias
namoros com muito sol
quase sem nuvens vai chover
a linha o comboio no mar,
quase ponte,
falar alto, falar mal,
rir gargalhadas tão alto,
quase cristal,
os bês pelos vês do Porto
que é norte comigo.


três

todos os dias contados
a aviões que cabem na janela grande
a passar

e o resto do dia está cansado
e segue viagem até à Baixa
- e o que resta da Baixa há-de desaparecer:
e troca-se corpo molestado por duas noites onde ficar

e todas as luas por uma manhã de esperança.

11.6.07

O brincador e a ciência



Um fio de luz evade-se pela raíz e é fruto.
Experimento.
Cócegas de lâmpada na tremura do solo fértil.
Experimenta-se.
A tartaruga atravessa a luz e afinal é mosca, hesita entre espécies, patas no solo e afinal nem é tão tarde assim, mesmo voando rente, entre um tubo e uma pinça.
Experimento.
Seis minutos antes de amanhecer, um homem é abatido a tiro numa passadeira dos arredores da cidade grande. Rastejava de cansaço, com uma carga de sono, álcool, neutralidade perante os elixires desesperantes da vida, uma camisa aberta e uma mulher casada. Tiro no peito.
Experimenta-se.
E então o dia de árvores sem sombra.
Experimenta.
O dia do aprender a morrer e ambos
vivos e mortos descobrem que os erros, apesar de
fatais,
experimentam-se.

A partir de hoje, ao serviço da ciência.

6.6.07

















É de um mau gosto extremo não ser feliz em Junho.



fotografia da autoria de Fernando Machado