14.7.05

Gostaria

Gostaria
Gostaria
De vir a ser um grande poeta
E que as pessoas
Me pusessem
Muitos louros na cabeça
Mas aí está
Não tenho
Gosto suficiente pelos livros
E penso demais em viver
E penso demais nas pessoas
Para estar sempre contente
De só escrever vento



Boris Vian
canções e poemas

9.7.05

LONDRES

Eu não sou de cá,
tenho cinco medos em cada mão
mas não sou de cá.

Sou daquela ceara de trigo,
de profundo silvado
ou matagal.

Sou do frio dos Invernos,
da caverna submersa pela luz
dos lagos eternos de Pompeia.

Sou dos bicos dos melros,
da asa partida da andorinha que falhou o voo,
e dos muros de Trancoso que não a deixaram passar.

Sou do tempo dos beijinhos,
da pólvora como lixo,
dos sete dias excelsos de masturbação.
Das águas engolidas pelos peixes,
por que mão,
por que não?

Sou do santuário onde se rezam páginas em branco
e se agradece aos sonhos do irmão.

Sou um fascista do Islão,
quero a morte,
não o pão.

Sou de lá.
Tenho cinco bombas em cada dedo,
porque não sou de cá.