15.10.06

O milagre da mão-invisível
















Foi pedido ao tio zé, campeão europeu de construção de castelos de areia, que construísse uma casa sobre o mar.
Zé, ou tio para os sobrinhos mais próximos, enterrou a pá na areia, encomendou um barco, comprou fato de mergulho, aprendeu a nadar, licenciou-se em ciências marinhas, registou a sua cana de pesca junto das entidades competentes, lambeu um gelado de baunilha, contou duas anedotas aos caranguejos, fotografou a água a espumar-se nas rochas,
foi ver o barco, pagou-o às prestações com oferta dos remos, inventou a grua que levita, sonhou com tijolos de esferovite, concebeu-os em forma de sardinha, vomitou uma posta de bacalhau no restaurante do irmão, vendeu núcleos de ilusão no interior das dunas, sobreviveu a tempestades de areia, publicou um artigo de jornal sobre o assunto, foi lido por trezentas e vinte pessoas, engadelhou-se com uma rede de pesca, partiu para alto-mar,
equeceu-se de levar cimento, projectou o edifício com as coordenadas do pôr-do-sol, enfiou dois dedos na água salgada, levou-os à boca, tombou de encantamento porque se apaixonara por uma estrela.
Não pensou uma segunda vez: recusou.


* Ilustração: Moon and Sea, No. 2; Donna Ciaciarella

7 comentários:

  1. gosto muito de te ler
    muito
    beijinhos
    alice

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  2. uma estrela é sempre uma estrela, eu sou do mar, como na canção.
    Fantástico.
    ès demasiadamente inspirador, demasiadamente infinito,
    demasiadamente vivo.

    Por favor nunca baixes os braços
    (não sei bem pq disse isto! saberás?)
    Lápis de cera, com cheiro a lápis de cera.

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  3. Também não sabe nadar?

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  4. "duas anedotas aos caranguejos"... não vejo como pode ter ele recusado.

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