24.10.06

Dois laranjais secos

Da Suécia à Grécia são apenas cento e vinte centímetros.
E, às vezes, o azul de cada um deles mistura-se indecentemente com o outro,
sem diplomacia intermédia, mesmo nas barbas do dono do hotel.
















A doença terminal sonha com um aborto ou com recém-nascidos?
Acorda o corpo prestes a tombar, leva-o pela mão até um espelho e sopra-lhe baixinho ao ouvido:
Olha, era este o monstro que te queria mostrar.
Os que lhe são próximos, que não enxergam nem monstro nem homem, choram Porque não sabem cantar hinos ao amor. Porque, pobres ingénuos, ainda acham que um homem pode morrer.


* imagem: História trágico-marítima; Helena Vieira da Silva (1944)

4 comentários:

  1. Não sabem, ainda, que o Homem já nasce morto...

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  2. Vou comentar aqui, até porque podia comentar noutro post qualquer...

    E vou dizer uma coisa: às vezes não é fácil ler-te. Há dias em que temos de chegar aqui com uma predisposição qualquer para a fantasia e nem sempre estamos prontos a engrenar nas tuas letras cheias de vida. Outros dias, é tanta cor a sair das palavras que não percebo nada do que dizes e até saio daqui zangada por tentar analisar cada palavra e cada ponto final. Sigo-te as letras há muito tempo e, no meio de tanta ficção, ainda procuro o fio condutor da história. Umas vezes penso que o agarro e outras deixo-me ir atrás dele. E quanto menos percebo, mais vontade tenho de não perceber. Hoje foi um dos dias em que entrei aqui como se fosse conduzida por uma personagem louca do Tim Burton. Afundei-me nas palavras como se fossem chocolate. Sem procurar sentido nenhum. E resultou.

    Se calhar não sei cantar hinos ao amor. Mas deixei-me ir na ingenuidade da música. Viajei e soube-me bem. Mais uma vez, valeu a pena estar por aqui.

    :)

    Beijinhos*

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  3. tu és um envelope fechado. quando chegas à minha mesa. ficas pousado a desafiar-me. agarro na régua e meço longura do corte. o tempo que falta para te abrir. e começo a chorar. ainda antes das primeiras letras.

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  4. A diferença é mínima entre a tese e a antítese.

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