11.10.06

Confissões de um Janeiro em Braga

Já não aguento esta cidade. Já me fogem as palavras de aço e é tão infantil a ilusão de as agarrar. Como lego, faltam peças e rodas a estes sempre-mesmos-edifícios.
São demasiados rostos de artifício suspensos nas vagas de ar. Sei que não aguento. Vejo eu, uma criança desesperada (três, quatro anos de desespero) a tentar chamar a atenção da mãe.
A mãe, com sotaque brasileiro, não interessa o sotaque, ignora a criança e discute com um homem que não é pai, um olhar daqueles não pode ser pai. O menino brinca, luta, levanta a voz com deliciosos tiques infantis, os adultos discutem sem nunca se olharem, a criança mexe, abana-se, tosse, brinca. Cresce com os olhos no vestido da senhora que passa.

12 comentários:

  1. As cidades estão cheias de olhos tristes.
    Olhos com reflexos de prédios enjaulados nas pestanas.
    Os meninos crescem nos tubos de escape.
    No fumo dos carros.
    Por isso são cinzentos e olham para os vestidos que passam, esperando ver neles muitas cores...

    ResponderEliminar
  2. ora bem, ficamos a saber por encadeamento lógico de textos que o "rapaz que deseja a senhora que passa" é uma "criança de deliciosos toques infantis".. lool olha que essa está quase ao meu nível de fumar cigarros no teu colo enquanto me contas uma história! :)

    já agora, é sempre um prazer passar por aqui a consumir as tuas palavras, se bem q as prefiro sarrabiscadas num caderno vivido tirado da mala.

    ResponderEliminar
  3. Oh Larguesa, são meninos diferentes. E vestidos também. ;)
    apesar de encadeados, sem dúvida, como um álbum de Pink Floyd.

    Bruna: é isso mesmo, às vezes é isso mesmo.
    ***

    ResponderEliminar
  4. Ah, meu poeta.... Não brigue com Braga, não. Por aí ainda é possível ver vestidos. Por aqui, perdem-se os olhos, e com eles vão-se as esperanças...

    ResponderEliminar
  5. És tão lindo..se não tenho cuidado, vou morar desse lado, no teu blogue, nas tuas palavras...*

    ResponderEliminar
  6. (MAS CLARO QUE SIM-beijo recebido)

    texto doce.

    ResponderEliminar
  7. Em Braga ou noutra cidade qualquer... há sempre olhares de desespero esperançoso. Resta saber reconhecê-los.

    ResponderEliminar
  8. Mas há, também, novos olhares que se abrem ao mundo, a esta cidade, só com a esperança, sem o desespero. E a amizade.

    ResponderEliminar
  9. Subescrevo. Num Outubro em Braga.

    ResponderEliminar
  10. Subescrevo. Num Outubro em Braga.

    ResponderEliminar
  11. Braga...Esse nome...enfim!
    esse é o retrato de todo lado, trocamos os sorrisos pelas barrigas cheias!!!

    Adoro passar por cá, a tinta da caneta começa-me logo a fervilhar, pena que seja tão dificil.

    beijinhos de açucar em caruxo de cartão

    ResponderEliminar