30.5.05

"Transforma o fraco em coisa forte e tudo se renova...!
Transforma o fraco em coisa forte e tudo se renova...!
Transforma o fraco em coisa forte e tudo se renova...!
Transforma o fraco em coisa forte e tudo se renova...!"

Toranja, Ensaio

27.5.05

Se já nem os muitos dígitos dos números conseguem incomodar a ausência-de-alma que desfolha o jornal, então que uma dor personalizada arrepie a percentagem de humanidade que lhes sobra. Não basta o "coitadinhos", ajudem-me a encontrar o que basta.
Lágrima-dor.



Os pobres de Pequim
Mãe e filho dormem nas ruas de Pequim. A poucos dias da celebração do Dia Mundial da Criança, as autoridades chinesas estimam que muitos milhões de crianças chinesas continuam a viver na pobreza.
(Foto: Michael Reynolds/EPA)

Humanidade. Mais uma vez aqui.

24.5.05

Feliz por te voltar a ver, Tom.



Avisa-se toda a tripulação que me encontro, depois da próxima vírgula,
completamente fora-de-serviço para a vida adulta. Complementa-se o comunicado, adicionando-se-lhe a confirmada informação: extenderei a minha vontade de criança por mais algumas árvores de vida e apresentar-me-ei à sociedade "sempre descalço". Como tu, Tom Sawyer.
Como tu.

16.5.05

Borboletas para colorir cinzentos

Há, de longe a longe, pequenos bater de asas que me fazem sentir uma pontinha de orgulho na minha terra. Neste post sou bairrista. Sou de Paredes.
Tudo por causa disto. Um encantado(r) Concurso de Borboletas. Hei-de ajudar o meu sobrinho a ganhar, hei-de ajudá-lo a voar.
Queria.

14.5.05

Amigo nocturno



Ele foi, em tempos, apenas um menino mais velho que eu encontrava sempre de copo na mão e brilho ofuscante no olhar. Não poucas noites, a única pessoa em quem reconhecia a rara faculdade de saber sorrir-com-alma-inteira, estar atento aos que passam, acenar com pureza. E nesta noite, às muitas horas da manhã, aconteceu uma conversa encantada que, à minha maneira, resumo assim:
"preferes vinho ou cerveja?"
Prefiro que me enchas a tela com palavras, com os teus poemas preferidos. Tu que agora, para além de seres isto comigo, és aquele que lança com ansiedade a luz o teu poema preferido para o meio da aparente escuridão de uma conversa nocturna. Este, de João Saraiva:

Passo a passo

"Sou alta - diz a Amizade
Sou profundo - diz o Amor
E lembram bem, na verdade
Montanha e Vale ao sol-pôr
E antes que o Sol resvale
Ao pélago, onde se banha,
Já dorme em sombras o Vale
E ainda há sol na Montanha!"


És aquele que me obriga a derreter nas atordoadas palavras "muito muito muito muito bonito". És medo da solidão, do fim da lua e dos sonhos. E se eles não voltam, e se a lua se deixa aprisionar pelo cronómetro da dor? És aquele que procura e dá ombro. És o que diz "Foda-se! Ainda aqui estou! Venham agora...". Há maduro tinto alentejano para as solidões. És o que o oferece. Curas. Um poeta à direita, afinal também gosto de poetas à direita. És, mais uma vez, um segundo poema fulgurante que rasga com flores a conversa. De Pedro Homem de Mello, este:

Felicidade

Ó infinita consolação
De haver chorado
Algumas vezes!


Ele é, agora, o "eterno apaixonado por poesia". Já o sei. Ele é agora em mim qualquer coisa muito bela muito mais próxima da alma que realmente é. Ele alimenta as conversas com poemas e sonhos de abraços. Eu termino este texto (para ele) com promessas de presença e com mais um fantástico poema que me ofereceu. Há noites assim. Que não deviam acabar. Que deviam ser como na tela de Francisco Duarte Mangas:

"Deve existir uma outra
noite
onde caibamos todos

inocentemente felizes

a comer laranjas
e a discutir problemas de aromas
de flores."


Amanhã há mais sonhos por comer. E mais tempo para amar. Obrigado, amigo. Prefiro os poemas que me deixas. E o vinho dos amanhãs.

13.5.05

Chove



Gosto da chuva como quem acaricia um cão com pulgas no meio da rua. Abro os braços e vem-chuva-matar-com-o-vírus-do-prazer. Grito para os céus.
Mas, porque gosto muito de animaizinhos, queria mesmo era que chovessem gatos peludos lá do cimo do monte, por cima das nuvens, onde só habitam os reis das chuvas. E as rainhas, responsáveis por derrames de arco-íris.
Gosto das chuvas de fria e cândida gota.

ilustração: "Mulheres na chuva" de Alice Candeias Ambrosini

9.5.05



Haverá diferenças:
Um. É delicioso carregar um amigo às costas, pesado com os seus fantasmas de alcóol, às 8 da manhã junto ao Mar quase-beija-Porto. O Mar que amanhace em faces cansadas de tanto beber, de tanto biber. É inspiradora a travessia de sono e desejo que se arrasta (pés no chão, sonhos no horizonte) nos passos de exílio da Queima das Fitas do Porto.
O Porto é único ninho onde me permitem amar a minha solflor.

Pássaro-bati-asas-para-aqui. Para o aqui definitivamente sol de Braga.

Dois. É assutador que nenhum amigo me carregue às costas, fantasma só com copos em dívida, e que o caminho se arraste pelas ruas improvisadas, asfixiadas pelos monstros gigantes com portas e janelas. São de medo e de tédio os pensamentos do homem que queria sonhar. É inaceitável que não beba o suficiente para que possa ignorar a dor de mais um dia que vou falhar, dos tão carenciados alguéns a quem vou faltar. Às 8 da manhã, nem-um-rio, a sair do Enterro da Gata de Braga.
Braga é ser extraterrestre na única morada que tenho. É estar proibido de amar, sem nunca ter percebido porquê.
Haverá sempre.


ilustração: "Solflor" de Franco A. Stancato

4.5.05

O tão profundo BENFICA que há em mim



Era um menino tímido e estava lá. Arrepiado e surpreendido e com lágrimas no rosto. Nunca tinha pensado como a força colectiva, quando está feliz, pode ser tão divina. Era ainda no tempo dos 120 mil num Estádio. Na Luz de todas as glórias. Estávamos no ano de 1994 e o BENFICA era CAMPEÃO. Zero a zero contra o vitória de Guimarães. Quem queria saber. Estavam em campo todos os golos marcados ao longo da época. Estavam em campo as "papoilas saltintantes" e os seis golos marcados ao Sporting, em Alvalade. Estavam João Pinto, Vitor Paneira, Rui Costa, Schwartz, Mozer, Veloso, Isaías, Rui Águas. E eu chorava de tão feliz. De tão arrepiado. Bandeira às costas a gritar para a grande onda vermelha que a Luz sempre foi. O BENFICA era CAMPEÃO e fiz todos os quilómetros de regresso a casa com um sorriso nas lágrimas dos olhos. Ser Benfiquista é doença mortal. A fase terminal de estar sempre a sonhar com o vermelho na alma.
Ainda sou um menino e não mais vi o BENFICA CAMPEÃO, não mais chorei tanto e tão profundo. Mas sempre ergui a bandeira, vesti a camisola com orgulho. Fomos sempre os melhores em Amor à "chama imensa", sempre tivémos um "orgulho muito nosso".
Sou um menino pequenino e estamos no ano de 2005. Tem que ser desta, tem que ser. Porque este menino quer muito chorar de arrepios, quer muito saltar com toda a alma. Quer ver vermelho pintado pelas ruas.
Este ano este menino chorará.

3.5.05

Às vezes isto.

"Sonhar! Mas eu já não posso sonhar só isto. Preciso de sonhar mais - dum sonho sem limites que me satisfaça.
Dias há em que me deito na cama e não tenho mais vontade de me levantar. Olho em roda. Toda a vida me parece aborrecida e vazia. A minha falta de energia exaspera-me. Estou gasto e com rugas aos trinta anos. Estou cansado e esgotado, sem imaginação e sem nervos. Aflige-me não ter sido moço, não ter vivido como os mais, e insulto a minha quimera que me parecia de oiro, por quem me esgotei, para afinal a encontrar gelada e fugidia... Errei o caminho: não era por aqui."

Raul Brandão, A morte do palhaço e o mistério da árvore

2.5.05

Primeiro de Maio para reflectir


Dia do trabalhador, em Portugal: abençoadamente com os hipermercados fechados e com mineiros no sofá a verem os pontapés na bola.
Dia do trabalhador, pelo mundo, neste texto e imagem recortados do Público:

"Dia do Trabalhador no Paquistão
Um idoso transporta bidões de plástico nas ruas de Peshawar como forma de ganhar a vida, num dia em que o mundo celebra o Dia Internacional do Trabalhador. Manifestações por todo o Paquistão pedem melhores salários e condições para os trabalhadores."