9.5.05



Haverá diferenças:
Um. É delicioso carregar um amigo às costas, pesado com os seus fantasmas de alcóol, às 8 da manhã junto ao Mar quase-beija-Porto. O Mar que amanhace em faces cansadas de tanto beber, de tanto biber. É inspiradora a travessia de sono e desejo que se arrasta (pés no chão, sonhos no horizonte) nos passos de exílio da Queima das Fitas do Porto.
O Porto é único ninho onde me permitem amar a minha solflor.

Pássaro-bati-asas-para-aqui. Para o aqui definitivamente sol de Braga.

Dois. É assutador que nenhum amigo me carregue às costas, fantasma só com copos em dívida, e que o caminho se arraste pelas ruas improvisadas, asfixiadas pelos monstros gigantes com portas e janelas. São de medo e de tédio os pensamentos do homem que queria sonhar. É inaceitável que não beba o suficiente para que possa ignorar a dor de mais um dia que vou falhar, dos tão carenciados alguéns a quem vou faltar. Às 8 da manhã, nem-um-rio, a sair do Enterro da Gata de Braga.
Braga é ser extraterrestre na única morada que tenho. É estar proibido de amar, sem nunca ter percebido porquê.
Haverá sempre.


ilustração: "Solflor" de Franco A. Stancato

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