7.1.05

História do século XX

"Avante a nação!", distinguiu mãos de lençóis antes de gritar acordado. Já sabe de cor os movimentos: arranhar a perna com as unhas do outro pé, sentir o arrepio do medo na superfície da pele e deixar-se empurrar pelo pesadelo borda da cama abaixo. Sonhou a nação, queimou com nojo a caneta de Molotov Van Ribberntrof, evadiu-se para o alto Mar, cuspiu sangue e pedras dos rins, as mais pequenas e por isso mais livres e soltas sem qualquer compromisso irrescindível com o sistema linfático, queimara com nojo a caneta numa fogueira de cães é importante que se diga, reclamou com os tubarões sem fome, comeu-os, rompeu unilateralmente insensata fidelidade, "a grande mãe pátria", unha partida de tanto a perna sangrar, gritou acordando. Qual é o mal de morrerem, eles são tantos. Névoa, luz vaga, foi a 8 de Maio, penso. Quarenta e cinco mortos. Não, anos. Não sei bem. O sangue não estanca apesar de bem acordado, fora da cama, pés descalços no chão frio, barata feia dentro de um chinelo, Hiroshima fica na China ou na Indochina, calça-o, caminha esmagando-a, levanta a tampa da sanita, urina salpicando tudo de mijo, ou então a 6 de Agosto. Mais vítimas. Ou o mesmo ano. Não sei bem, não me consigo lembrar de tudo, um homem não é uma máquina, deixem-me em paz, o está-se bem social pois claro, evadiu-se para o alto Mar, reparou a rede de pesca cheia de buracos, envolveu-se nela, faz frio muito frio e a rede, nunca se sabe, pode ser quente, enrolou uma ligadura bem apertada no sítio da ferida, chorou,
"Cortina de ferro", distinguiu lágrimas salgadas da água do mar antes de adormecer gritando. Soluçou adormeido, restos de comida e o nome Vitor Emanuel III vieram-lhe à boca, o problema logo se resolveu na magistral sequência de arrotos que se lhe seguiu, dormia - medo a seu lado. Livro de História no chão.

Sem comentários:

Enviar um comentário