26.11.04

Trombar




Vou contar uma história. É uma mania que tenho. Peço desculpa por isso, mas vou contar uma história.
Ele tinha seis anos e brincava com três brinquedos. Apenas três brinquedos desde os quatro anos. Uma bola, uma bola mais pequena e um Fiat Panda em miniatura já sem rodas. Nunca lhe deram outros e era com esses três que brincava. Observava-os insistentemente, dia após dia, imaginando um elefante. "Não consigo, nunca conseguirei!" e começava a espalhar pela terra castanha lágrimas tão tristes e tão livres que o deixavam rodeado por famílias inteiras de arco-íris. Queria fundir os três brinquedos num só: queria construir um elefante: queria que alguém lhe respondesse quando falava sozinho: queria um amigo. Ele que falava tantas vezes para ninguém. O eco ãe ãe ãe ãe ãe ãe ãe era a única resposta que obtia da questão, ainda multicolor, "Onde está a Mãe?". Estava no Mercado. A vender fruta da qual só comia a versão podre.
Brincava com três brinquedos e tinha seis anos. No papel da matrícula para a escola tentava desenhar elefantes e suspirava. Imaginava a sala de aula cheia de trombas e orelhas gigantes. O professor como o elefante maior e com roupa de circo. "Não consigo, nunca consiguerei!" e logo o socorriam arco-íris. No papel apenas desenhos de gravatas e fatos-de-casamento ("Mãe, o pai casa-se todos os dias?") porque se lembrava, não se esquecia do pai. ai ai ai ai ai ai ai ai ai ai, "Onde está o pai?".

*** continua ****

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