27.1.09

Canção majestosamente tragada pela hesitação

Para quê escrever o que não sou se as tuas mãos continuam doces?

Não há ninguém mais chato que o homem que não o é
e, ainda assim, quer ser tudo, escreve tudo como se o fosse.

Tudo o que digo sem o escrever não deve ser levado muito a sério. Está escrito.

É nas tuas mãos onde não poucas vezes adormeço,
embalado como o menino de todos os mimos do mundo.
É desses dedos que sai toda a palavra, ainda que breve, desordenada pela tempestade,
ainda que assinada por mim.
Arrancam-me palavras do corpo, na agitação do escuro espantado:
Se não amasses tanto, amanhã não amanheceria. Escreve o escuro espantado.

Para quê escrever todos os minutos, alimentar um simulador de paixões
(nome menos usual para a impotência da memória)
se só me interessa o que sou
e não sei ser nem metade da palavra do meu nome
sem a tua boca
e a minha boca na tua mão?

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