4.1.08

Janeiro

Este pedaço de frio cúbico, voz que queima
esta mão, forma de caixa
de fósforo, doze campaínhas em compasso surdo,
um urso de sede, o assalto está iminente,
hei-de enfiar uma bala no medo,
curar-te com um bisturi.
Este reflexo sem chama, três pancadas
no ponteiro, são horas de escurecer,
é o tempo perdido da criança do guarda-chuva.

Fui pescar palavras para as quatro da manhã,
abri a porta, falava sozinho, coçar de testa em forma de garfo,
é o pente dos pensamentos, três galos órfãos de dignidade,
frio de Janeiro.
Hei-de compor-te a canção perfeita,
limpar o soalho e adormecer.

Corre-me este mês na espinha,
arrepio frio, felino cor de pato,
circula de noite como um semáforo.
É tempo de apontar com luvas no indicador,
atear fogos, indicar ruas de boa viagem
na ponta do dedo.
Se fores a pé, sacode a perna dormente,
fecha os olhos ao caminho,
entrega-te à viagem como a flor de espuma.

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