Foi pedido ao tio zé, campeão europeu de construção de castelos de areia, que construísse uma casa sobre o mar.
Zé, ou tio para os sobrinhos mais próximos, enterrou a pá na areia, encomendou um barco, comprou fato de mergulho, aprendeu a nadar, licenciou-se em ciências marinhas, registou a sua cana de pesca junto das entidades competentes, lambeu um gelado de baunilha, contou duas anedotas aos caranguejos, fotografou a água a espumar-se nas rochas,
foi ver o barco, pagou-o às prestações com oferta dos remos, inventou a grua que levita, sonhou com tijolos de esferovite, concebeu-os em forma de sardinha, vomitou uma posta de bacalhau no restaurante do irmão, vendeu núcleos de ilusão no interior das dunas, sobreviveu a tempestades de areia, publicou um artigo de jornal sobre o assunto, foi lido por trezentas e vinte pessoas, engadelhou-se com uma rede de pesca, partiu para alto-mar,
equeceu-se de levar cimento, projectou o edifício com as coordenadas do pôr-do-sol, enfiou dois dedos na água salgada, levou-os à boca, tombou de encantamento porque se apaixonara por uma estrela.
Não pensou uma segunda vez: recusou.
* Ilustração: Moon and Sea, No. 2; Donna Ciaciarella