2.12.07

Electro-homem

O homem que deliza sobre carris tem horários a cumprir.
Às oito desce com consciência, mata a montanha de vergonha, sacode as palavras.
Às dez sobe com todas as ansiosas visões, atropela o mundo com a ansiedade de astronauta.

O electro-homem com rodas nos pés cumpre as obrigações com disciplina.
Ao meio-dia cospe nas mãos, estaciona para comer a meio do percurso, aplaude a luz do sol.
Às duas, em movimento descendente, recolhe as forças que lhe restam, solta um gemido de óleo na rua estreita, desliga os motores.
Às quatro reforma-se a partir da varanda, vê as saias passarem em baixo, bebe um licor acastanhado.