
Se nos roubam é porque nos querem, iludidos por um desejo de mastigar o outro, aprisionados em investidas cerradas a sorrisos alheios, se nos roubam é porque invejam a técnica do sorriso, têm medo dos ratos.
O ladrão não caminha, desloca-se aos pulos - é o medo de que o chão lhe caia em cima, tem pavor da humanidade, só por isso é filho da puta, só por isso rouba como se desse à luz um coelho. Não sonha, se sonhasse tinha umas orelhas maiores e não passava despercebido, ressona com a consciência em voz baixa, deixa dó, plena consciência da merda que é a cada novo assalto,
uma vontade de lhes escrever,
olá como vai?
na testa. oferecer-lhes uma gravata, torná-los estrelas de rock, pendurar-lhes algemas de prata nas orelhas, estilo brinco de argola, fazer-lhes festas na cabeça em vez de os encher de murros, insultá-los ao contrário.
É urgente confundir os sentidos e roubar toda a gente. Mas ao contrário.
Se nos roubam é porque nos desejam.