30.3.10

aço, fome, cavalo, sono



Não é assim tão bom,
não é assim tão mau
- tem momentos, espasmos,
acumula erros
cristais
ilusões de aço
flores em chamas.

Antes do romance, a honestidade:
não prestas, poeta.
És pó, fumegas, tosses mas não dizes,
perdes o teu tempo.

Enquanto pestanejam o bem e o mal,
mastigas o futuro em círculos
e queimas a artéria esgotada.

Antes do romance, a matemática:

1. Doeu. O nariz dói quando está irritado. Quando dói, as sobrancelhas juntam-se a pele estica, quando ai. Não gostas que suspeitem do teu ai.

2. tenho fome. tenho comida. não como.

3. As minhas botas pintam as meias de castanho. Não cheiram mal.

4. Tenho uma guitarra. Tenho silêncio nas duas mãos. Não toco.

Não é assim tão longe,
não estás assim tão perto.
por muitos sonhos que saltes
como um cavalo
na flor brotada.

8.3.10

A isenção do homem-livro























Nuvens pesadas suspensas sobre muitos homens não os deixam pensar.
Ainda que ergam a cabeça, estão isentos de ideias, de contrições e de amor.

É uma fórmula: um homem dedica o seu dia à escuridão do gesto, submete o corpo aos instintos mais pesados, toma banho de pijama, não olha pela janela nem atravessa pontes.
E o resultado: um dia de chumbo em excesso para o somatório de cicatrizes,
um nível abaixo do penteado.

A liberdade é, nestes casos, o maior desperdício de um homem-livro, uma tirania difícil de inalar.

Dão-lhe a poesia e ele escreve tempestades.